“Empresas procuram quem mobiliza e adiciona valor”

A “Comunica UPT” falou com Mário Andrade, autor do estudo “O Poder Económico da Felicidade Organizacional”. É licenciado em Economia, mestre em Gestão e gere atualmente uma PME na área do mobiliário.

Comunica UPT: Como surgiu o tema da felicidade organizacional na sua investigação?
Surgiu naturalmente. As temáticas organizacionais e do capital humano sempre me despertaram um interesse particular que foi crescendo com a experiência profissional. Por acreditar que os colaboradores felizes induzem poder económico e diferenciação às empresas, decidi avançar com a investigação, na expetativa de obter resultados relevantes.

Quais as principais surpresas que o estudo lhe deu?
Desde logo o facto de existirem estudos sobre a felicidade organizacional do início do século XX. Há cerca de 100 anos, investigadores já estudavam o tema. Por outro lado, algumas das principais conclusões do estudo, que resultaram de um longo processo de convergência analítica (cerca de dois anos), do qual brotaram conclusões que considero bastante importantes.

Em que medida, o mestrado “mudou” a sua vida ou que ensinamentos lhe deu?
No que se refere à componente curricular houve uma clara adição de valor em termos pessoais e profissionais. Quanto ao desafio da dissertação, permitiu-me desenvolver e aplicar um conjunto alargado de competências e conhecimentos que em muito contribuíram para o resultado final.

Como entende ou se traduz a felicidade no local de trabalho?
A felicidade no trabalho é, antes de mais, uma variável escassa, com um crescente poder de influência nas organizações. A sua construção assenta num processo temporal, normalmente de médio ou longo prazo, que gera importantes vantagens competitivas. As empresas com as melhores práticas de gestão consideram o poder diferenciador da felicidade no trabalho, aproveitando com uma notável eficiência os seus recursos endógenos – conhecimentos, competências, cooperação, etc. Só existem organizações felizes com colaboradores igualmente felizes. Para atingir este objetivo deve adotar-se fatores específicos de diferenciação estratégica, organizacional e humana que contribuam, no seu conjunto, para desenvolver um clima organizacional humanista, de equilíbrio profissional, familiar e social, bem como um contínuo desenvolvimento de competências e de reconhecimento dos desempenhos meritórios.

Houve algum momento ou alguma pessoa que o marcou em particular, quando entrou no mercado de trabalho?
A entrada no mercado de trabalho é um momento singular na nossa vida. Desde logo, porque se entra na vida ativa, à qual estão associadas novas responsabilidades, competências e oportunidades. Quando entrei no mercado de trabalho e em momentos posteriores, encontrei algumas pessoas com responsabilidades na gestão de topo que, pelo seu exemplo, me marcaram profundamente. Obtive direta e indiretamente importantes ensinamentos em termos de planeamento, estratégia, rigor, exigência, objetividade, discurso, postura e de capacidade de trabalho.

Qual a análise que faz à Gestão em Portugal?
A qualidade da Economia depende em muito das boas práticas de gestão das empresas e do Estado. Em Portugal existem práticas de gestão de elevadíssima qualidade que estão associadas a um número reduzido de empresas. Verifica-se, no entanto, que a grande maioria das empresas apresenta uma baixa qualidade de gestão, algo que é extensível às organizações estatais. No setor privado muito deve melhorar, até porque existem em Portugal excelentes escolas e cursos de gestão que produzem conhecimento diferenciador que está claramente subaproveitado. No que diz respeito ao setor público é tudo propositadamente complexo, encontrando-se as principais decisões distantes da meritocracia e, em muitos casos, do interesse público. É importante que se assuma que Portugal, nos termos em que tem sido gerido (governado), ao longo de várias décadas, se fosse uma macroempresa já tinha entrado em processo de insolvência.

Quais as características que considera essenciais para vencer no atual mercado de trabalho competitivo e global?
As exigências a esse nível são enormes. Atravessamos momentos de grande dificuldade que despoletam uma concorrência desenfreada. Importa, antes de mais, que quem está empregado tenha a exata noção de que deve salvaguardar o seu posto de trabalho, contribuindo o mais possível com as suas competências e com o seu desempenho para a obtenção de resultados positivos. Para além disso, é importante que os colaboradores tenham presente que o contributo mensal que dão à empresa tem de ser bem superior ao retorno que recebem da mesma. O atual mercado de trabalho exige competências diferenciadoras que acrescentem de forma evidente, e no imediato, valor à empresa, bem como conhecimentos multidisciplinares que conduzam a soluções inovadoras, uma forte capacidade de trabalho e algum engenho e resiliência.

No atual contexto de crise que afeta, em particular, o mercado de trabalho jovem, em que domínios devem investir os estudantes e recém-licenciados?
Os jovens devem continuar a acreditar na sua vocação. Apostar numa área de formação apenas com a expetativa da fácil entrada no mercado de trabalho ou da aparente rentabilidade, pode resultar num profissional insatisfeito, logo menos produtivo e muito longe da realização pessoal. Acredito que se os jovens adquirirem formação, no âmbito das suas melhores competências – muitas delas inatas -, serão profissionais de futuro, contribuindo para tornar a economia portuguesa mais competitiva e a sociedade mais feliz.

Quais os principais conselhos que daria a um recém-licenciado e a um profissional no ativo que procuram ser recrutados?
Nesta matéria a componente humana assume uma particular relevância, acompanhada das credenciais de cada um e da experiência profissional. Considero fundamental que o candidato se apresente com transparência, evidencie os seus pontos fortes, a experiência profissional que possa ter, bem como eventuais competências que sejam determinantes para a função. Para além disso, deve ter presente que o mercado de trabalho procura colaboradores que encontrem soluções eficazes e que possam dinamizar o negócio da empresa, tornando-a mais produtiva e competitiva. Quer isto dizer, que a generalidade das empresas procura quem faça a diferença dentro da organização, assumindo na sua área de ação um papel multidisciplinar que mobilize e adicione valor.

Neste momento, quem o inspira?
O Papa Francisco pela sua imensa coragem e humildade, por procurar ser sempre um “igual entre iguais”, e pela sua atitude reformista.

Tem alguma lema de vida?
“A vida não sendo uma linha reta, deve ser vivida com a máxima retidão”.

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